Jogo de 4 de agosto de 1971. Estádio Beira-Rio
FÁCIL, MINHA GENTE
"O Beira-Rio, como o Estádio Olímpico anteriormente, propiciou, qual Sorbonne futebolística a todos, indistintamente, a grande e eloqüente lição: para os arrogantes - humildade... e para os confiantes a satisfação de ter conquistado um triunfo dos mais sensacionais de sua história.
AOS PRIMEIROS trouxe uma lição de modéstia e morigeração: ainda são pequenos demais para dobrar os bem grandes. É a falsa grandeza, o gigantismo provinciano, a megalomania do normal querendo olhar de cima para os que o circundam. Não é para qualquer um ter um olho em terra de cegos...
AOS SEGUNDOS, aquèles que confiavam no poder do seu representante, em devaneios já antevisto como aureolado e imbatível, a êstes o sabor e a alegria de terem sido correspondidos. O Grêmio ganhou do Internacional e não podia ser de outra forma. Mostrou a fibra, a garra e, acima de tudo, um futebol notável, aliado ao peso extraordinário de sua gloriosa camiseta. [...] A César o que é de César! No choque de grandes, guardaram-se as proporções. Os catedráticos ensinaram os bicampeões." Jesus Afonso
Fonte: Revista do Grêmio - Ano XV - Nº 54 - Setembro de 1971
"Gente, como é bom ser gremista. Deu Grêmio no primeiro Grenal. No cinquentão, no centão, no sesquicentão. E agora, no duzentão, também. Nada melhor que num jogo clássico, um escore clássico: três a um. Foi o fino do grenal. Um grenal molhado, muito badalado, muito gostoso como quê.
[...] Um jogão. FIzemos um, dois três. Que vibração! O primeiro do pequenino Caio, que cabeceou entre os altões Pontes e Valmir. A bola estufou as rêdes "dêles". Foi uma beleza de gol. Depois aquèle pênalti. O gringo Scotta deu um chutão. Gainete foi para um lado, a bola entrou no outro. Explodiu a nossa torcida. As bandeiras tricolores se agitaram. Era o azul imperando no Beira-Rio. Um espetáculo grandioso. E o pique de Scotta festejando o gol. Oferecendo-o à nossa torcida." Mário Caminha
grenal - túmulo dos goleiros
"Você que é gremista, está com a mão no queixo, um pouco apreensivo com o gol contra de Everaldo. Mas, é uma preocupação passageira, que a bola só anda na área de Gainete, e que os 2 x 1 não vão tardar.
Você que é gremista, ergue-se no Gigante, e até se esquece que a chuva está caindo novamente: Scotta de pênalti (Valmir em Flecha) atira no canto esquerdo, e aí está os dois a um. Mas os dois a um não chega, existe uma ânsia de vingança, de mais gols. Só que você que é gremista nem de longe podia imaginar que o terceiro gol, a vantagem tranqüilizadora, viesse de um lance assim, rápido, malicioso, engraçado, cômico: 37 do tempo final, dois toques próximos da área do Inter, pela esquerda. A bola é levantada. Caio agacha-se a cabeceia quase no chão.A bola vai pedindo licença. Gainete faz pôse: e leva o frangão. Até Caio fica sem entender. O Gigante começa a chorar. As festas, a alegria do tri, o carnaval com chuva e tudo, que estava bem arrumadinho, não vai sair. Culpa de quem, De Dino Sani? Do Inter? Do Gainete?
É ruim ser goleiro: êle pode passar todo o jôgo fazendo milagres, mas se numa bola vem a falha, adeus: ninguém lembra o que êle fêz. Gainete apenas engrossou a lista enorme dos goleiros que acabaram tendo seu túmulo erguido no meio da alegria.
Lembram o que aconteceu com Lapaz? Foi há mais de 15 anos, um grenal no olímpico. Romeu da Cruz era o juiz, o dia 24 de julho de 1955. Houve um lance curioso. A bola foi erguida pela direita. Lapaz estava muito na frente, quando quis voltar, teve o sol contra si. Saiu mal, a bola fêz uma curva, e acabou morrendo quietinha no fundo do gol colorado. Naquele grenal, a falha de Lapaz custou caro, o Grêmio ganhou de 2 x 1, e Lapaz, mesmo sendo um grande goleiro, não pode escapar das vaias, e até mesmo (sem o merecer) da pecha de vendido e outras coisas mais..." José Nei
"Chovia muito e resolvi ir para dentro do Rian. Um cafèzinho, aquela hora, vinha mais do que bem. Ao meu lado, um cara gordo, cabelos grisalhos mostrando quem sabe uns 50 anos, chegou até derrubar açucar tão atento que estava ao radinho de pilha: " o grenal não vai sair, só dia 16 de setembro, por causa da chuva". Brabo, o cara largou o rádio, engoliu o cafezinho, acendeu o cigarro, louco da vida. Mas, em seguida, veio a reviravolta, e seu rosto ficou alegre e brilhante: "Vai sair o jogo com qualquer tempo"
Ir para rua só alguns corajosos corriam pelos paralelepípedos lisos, cuidando-se para não cair. Com esse tempo, pensei... Mas o cara de cabelos grisalhos, feliz na vida, estava novamente bravo: "o que, o Caio? Pela mãe do guarda! Êle é o coveiro do Grêmio". Só que o amigo dele, que teve a audácia de de falar bem do Caio, queria discutir de qualquer jeito.: "Você vai ver, ele larga para o Scotta na corrida e o Gainete quando acordar estará na maior fossa da paróquia [...] ele não jogava um bolão no Flamego ao lado do Gaspar?"